quinta-feira, 31 de outubro de 2019
Pão Por Deus – A História de uma tradição bem Portuguesa
O Pão Por Deus é uma tradição bem Portuguesa, mas a sua origem evolução e história até hoje é algo fascinante. Por vezes no entanto pensamos que poderá estar ameaçado por um Halloween que até poderá ter raízes longínquas partilhadas.
A globalização tem cada vez implementado mais o Halloween entre os Portugueses. O fenómeno da televisão, e mais recentemente a Internet, trazem até nós esta festividade anglo-saxónica.
As Origens Pagãs
As oferendas aos mortos nestas alturas do ano são comuns em diversas culturas pagãs, incluindo as celtas que habitaram o que é hoje Portugal.
Tendo em conta que muitas teses apontam a origem do Halloween como festividades célticas é interessante ver as semelhanças e desenvolvimento de ambos.
Também sabemos que muitas festas pagãs foram aos poucos tomando roupagens Cristãs, e a pouco e pouco se fundiram.
A Origem do Pão Por Deus Cristão
Com o passar dos anos foi cada vez mais promovido pela Igreja Católica o culto dos mortos, e a tradição de reservar lugar à mesa, e também de deixar comida para os mesmos.
Começou também o costume de deixar o primeiro pão de uma fornada nesta altura à porta da casa tapado por um pano. Seria para honrar os mortos, mas a intenção era também quem de mais pobre por ali passasse tomasse a parte física para si.
Assim este pão para os fieis defuntos começou a ter a vertente de partilha com quem necessitava.
O Terremoto de 1755
Um dos dias mais negros da história de Portugal é o de 1 de Novembro de 1755. Neste Dia de Todos os Santos, Lisboa viria a sofrer a maior catástrofe da sua história, sendo muito do país também afectado por ela.
Aí os afectados por tal tormenta foram a quem algo salvou pedir Pão Por Deus, tentando ter algo para matar a fome, aos que sobreviveram à catástrofe,
Relatos contam que nos anos seguintes nesse mesmo dia se aumentou o costume do Pão Por Deus, em jeito de celebração e agradecimento a quem tinha sobrevivido. Talvez por isso esta tradição seja tradicionalmente mais forte na região da grande Lisboa.
A Evolução até aos dias de Hoje
Com o passar dos anos progressivamente passou a ser cada vez mais um peditório das crianças. No século XX, onde os registos são mais constantes e fiáveis, começamos a ver muito o Pão Por Deus como a festa das Crianças.
Neste dia as crianças de manhã cedo iam de porta em porta a pedir o Pão Por Deus. Recebendo tradicionalmente frutos secos, romãs, pão e bolos.
Nos anos mais recentes, e mesmo contando alguns ciclos de menor fulgor, começou a ver-se cada vez mais como um dia em que as crianças pedem de porta em porta doces, sendo que ainda se continua a ver alguns frutos secos.
O saco de pano do Pão Por Deus é muito comum em todos estes registos, e nos dias que correm continua a existir, sendo que com a Internet temos visto muitos pequenos negócios a vender até versões personalizadas dos mesmos.
O Doçura ou Travessura Português
Um dos pontos de enfoque da cultura popular americana, que nos chega pela televisão e Internet, é a doçura ou travessura. É, no entanto, engraçado ver que algo semelhante existe tradicionalmente registado em Portugal.
As rimas e cantigas são normalmente descritas quando as crianças batem à porta. E em alguns casos vemos que detêm estrofes de agradecimento a quem oferta doces, mas menos simpáticas para quem não o faz.
A Cantiga Inicial
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
Para vir dar um tostãozinho
A resposta nas casas em que são ofertados doces.
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
E a resposta para quem não os dá
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
Variações ao longo do país
Em muitas outras regiões do país o Pão Por Deus é celebrado. No entanto existe ao longo do território algumas variações do mesmo.
Na estremadura é conhecido muitas vezes como o “Bolinho”, e a tradição é dar bolos festivos especialmente confeccionados nesta época do ano.
Já nos Açores a tradição é dar estas caspiadas, que dizem lembrar a o topo de uma caveira humana, honrando assim também os mortos.
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